“Informação precisa criar investidores mais inteligentes”

Data: 18/02/2010

“Informação precisa criar investidores mais inteligentes”


Embora antes fosse negado, agora se aceita que “os problemas vinculados à sustentabilidade são econômicos”, disse à IPS Mindy Lubber, presidente da coalizão sem fins lucrativos Ceres. A coalizão reúne investidores, organizações ambientalistas e outras entidades de interesse público, e promove a sustentabilidade e a compreensão da mudança climática nos mercados de capitais. Também dirige a Rede de Investidores sobre Risco Climático, integrada por cerca de 80 investidores institucionais, com ações coletivas de mais de US$ 8 trilhões, e que se dedicam a entender os riscos financeiros da mudança climática.

No começo deste mês, foi alcançada uma muito aguardada vitória: a governamental Securities and Exchange Commission (SEC) dos Estados Unidos resolveu, por três votos a dois, exigir que as empresas revelem as implicações de sua atuação sobre a mudança climática. Esta é a primeira vez que a SEC determina formalmente que a mudança climática é um risco. A norma é uma resposta aos investidores que consideravam insuficiente a informação solicitada antes nesse sentido. Lubber, que chama as corporações e comunidades financeiras a abordarem os desafios ambientais e sociais do planeta, disse à IPS, de seu escritório em Boston, que levou muitos anos para elaborar estas pautas.

IPS: Por que é significativa a decisão da SEC?

Mindy Lubber: A norma da SEC afirma que a mudança climática é um risco material que merece atenção das companhias. Em muitos sentidos, ninguém pedia novas regras ou leis, mas uma afirmação da SEC. Isto é, na realidade, parte de um panorama maior. Durante anos, existiu a ideia de que o meio ambiente era uma questão superficial, e que os assuntos econômicos eram os importantes. Agora as coisas são diferentes, e há uma aceitação de que os problemas vinculados à sustentabilidade são problemas econômicos. Por exemplo, pensemos na escassez de água. Não há água suficiente para alimentar as plantas, e tampouco para fazer funcionar sistemas empresariais. Neste planeta, somos 6,2 bilhões de pessoas. Estamos em déficit com relação aos nossos recursos naturais. Não temos recursos para nove bilhões de pessoas (o eventual aumento demográfico previsto para 2050), que usarão automóveis e lava-louças. Assim, não podemos construir uma classe média em todo o mundo. Temos de ver como criar uma economia com recursos limitados. A conversa mudou em sua totalidade. Agora se fala em integrar a sustentabilidade aos mercados de capitais. Como se faz para transformar isso em realidade? Uma maneira é as empresas mudarem a maneira como fazem negócios e que os investidores mudem como avaliam. Um caminho é que, se há risco material e algum impacto sobre a capacidade de uma companhia, isso tenha de ser revelado nas declarações financeiras. Por exemplo, se um produto utiliza urânio, mas há uma greve de mineradores na Nicarágua, então a empresa tem de saber. São necessários arquivos legais.

IPS: Que tipo de trabalho implicou a adoção desta medida?

ML: Mais de uma dezena de investidores, que manejam ações em torno de US$ 1 trilhão, exigiram uma orientação formal em uma petição de 90 páginas apresentada em 2007 à SEC, apoiada por petições complementares apresentadas em 2008 e 2009. A SEC apresentou as petições a investidores que manejam US$ 4 trilhões. Os comissionados estiveram abertos quanto a dar participação a pessoas de todas as opiniões. Sabemos que falaram com outros que disseram que a mudança climática não é um risco material. Eles leram a petição e nos convidaram para participar com outros investidores, e após um ano de deliberações determinaram que este era um tema que os investidores tinham o direito de entender. Concordaram em atuar a respeito. Demorou anos educar e trabalhar com os investidores. Junto com as petições dos investidores, nos últimos anos conseguimos um impulso real. Publicamos estudos de cem páginas e examinamos todos os arquivos da SEC, e não surpreende termos descoberto que algumas empresas não fixavam para si o risco climático. Havia uma necessidade de consistência.

IPS: Por que esta decisão é inovadora? O que diria aos que afirmam que não é?

ML: Depende de como se vê. De algum modo não é grande coisa, no sentido de que a SEC existe para proteger os investidores. Eles disseram que o mundo mudou e é preciso que as empresas indiquem os riscos materiais. Trata-se de fazer negócios como de costume, e se deveria olhar a definição de “riscos materiais”. De outro ângulo, pelo menos está sendo levado em conta que a escassez de água e árvores e os recursos naturais em geral passem a constar do balanço e não fora dele.

IPS: Antes da decisão da SEC, alguma corporação revelou voluntariamente aos investidores os impactos climáticos em seus negócios?

ML: Muitas empresas fazem isso, provavelmente 30% ou 40%. Não é o mais radical que se pode fazer. Isto tem impacto nos investidores de várias maneiras. Por exemplo, se um investidor em uma companhia de seguros tem enormes bens de raiz em uma área costeira, deveria conhecer as implicações da elevação do nível do mar e como isto pode prejudicar seus imóveis. Claramente, cabe aos hábeis administradores de dinheiro fornecer informação aos investidores, para que estes saibam como tomar decisões com base em dados. E só podem fazer isso quando têm informação clara, comparável, revelada de maneira consistente, para usar.

IPS: Qual considera o resultado mais importante dos novos requisitos?

ML: Dão aos investidores informação apropriada sobre os riscos e os protegem. O valor é que uma informação precisa e oportuna cria uma comunidade investidora mais inteligente. Segundo nossa experiência, a frase “o que se pode medir se pode manejar” é verdade. Quando as empresas têm de medir se o seu risco de investimento é maior a partir da mudança climática, ou da seca, ou se haverá um impacto em sua produção – por exemplo, no caso de uma companhia agrícola –, isso as obriga a serem responsáveis. IPS/Envolverde



(IPS/Envolverde)


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